Cabala, uma interpretação oculta da Bíblia
Pr Adélcio Ferreira - IBPMG
11 Outubro, 2024
O poder da propaganda é algo indiscutível. Quando se deu notícia, em nossos dias, da publicação do livro O CÓDIGO DA BÍBLIA, do escritor Michael Drosnin e do matemático Eliyahu Rips, informando que havia uma linguagem em código nos livros da lei, conhecido como o Pentateuco (a Torah), o mundo religioso que lê a Bíblia ficou estupefato. É que as notícias espalhadas diziam que os cinco primeiros livros da Bíblia seriam um intrincado computador, que contém uma série de profecias codificadas, que revelavam o futuro do mundo. Esse código, diziam os escritores, pode ser decifrado através de operações matemáticas decodificadas por eles.
Com isso, diziam que havia uma mensagem secreta da Bíblia, oculta há quase três mil anos. Ora, teria Deus inspirado um livro cuja mensagem estava oculta da humanidade, e que só alguns privilegiados poderiam decifrar essa mensagem? O que dizer de textos frequentemente usados pelos leitores da Bíblia, que encontravam nela a mensagem de Deus na leitura literal do texto?
A ORIGEM DA CABALA
Qualquer pessoa que investigue a História da Igreja verá que esse tipo de interpretação ocultista da Bíblia já existiu antes. Uma delas é a Cabala. Afirma-se que etimologia da palavra Cabala é formada do prefixo ‘kab’, que em língua semita significa “osso de calcanhar” e do sufixo Alá, que significa Deus (A Maçonaria e o Livro Sagrado, p. 93). Com isso se dá o sentido de ‘a estrutura óssea‘, a ‘carcaça’ do conhecimento divino.
Os cabalistas explicam a origem da cabala dizendo que Enoque (Gênesis 5.21-24) ensinou ao patriarca Abraão uma doutrina oculta, que este transmitiu oralmente aos seus filhos e netos. Posteriormente, Moisés redigiu por escrito esses ensinamentos no livro da Lei ou Pentateuco. Segundo ainda os cabalistas, Moisés previu que a sua mensagem, pura como era, não se conservaria nas mãos do povo, que peregrinava pelo deserto, tencionou evitar falsas interpretações, confiando as chaves do entendimento de seus escritos a homens seguros, de fidelidade comprovada, entregando-lhes de viva voz os esclarecimentos necessários para uma autêntica compreensão da Torah.
Os discípulos de Moisés confiaram esses ensinamentos secretos a outros homens, que os passaram adiante. Para se conservar inalterado o texto sagrado, os profetas ditaram normas aos leitores e copistas, normas estas derivadas do esoterismo de Israel, e que hoje se chamam “Massorah”. Esta, juntamente com outras tradições secretas (Michná, Gemará, Targum), constituem a chamada ‘Cabala Judaica’.
Alguns cabalistas dignos de nota são Moses de Leon, Isaac Ben Salomão, Ashkenazi Luria e H. Vital.
A MENSAGEM OCULTA
Os fundadores da Cabala tratam cada letra, número e acento do livro da Lei, conhecido como a Torah ou Pentateuco, como se fossem um código secreto, contendo alguma profecia ou significado profundo, mas oculto, colocado lá por Deus com algum propósito. O ponto central está em desvendar os segredos da maravilha e da majestade de Deus e sua criação divina. Dizem que esse código secreto contém um mistério, que só pode ser descoberto pelos iniciados em Artes Iniciáticas.
Abrange o hermetismo, cromoterapia, numerologia, astrologia, magia, angelologia, comunicação com espíritos dos mortos, curandeirismo etc. É essencialmente um envolvimento com o ocultismo em quase todas as suas modalidades. Procura, assim, oferecer soluções prontas, por vias sobre humanas, a pessoas desanimadas ou que colocam a razão de lado para atender à curiosidade com relação aos poderes tidos como extra sensoriais, ou que fogem aos cinco sentidos.
OBRAS IMPORTANTES
Duas obras importantes surgiram na Babilônia que são: 1) O Sefer Yetzirah (o Livro da Formação), um estudo sobre os poderes criativos das letras e dos números. 2) O Shiur Komah (A Medida de Altura), uma obra antropomórfica sobre as dimensões da deidade. O maior texto da Cabala, que contém a maior parte da tradição, é Sefer Hazohar (“O Livro do Esplendor”), escrito por Simeão Ben Jochai “sob ordem vinda do alto”.
DOUTRINAS
A Cabala pode ser teórica ou prática. A teórica ensina algo sobre o mistério da divindade. Declara então que o propósito da Cabala, aparentemente, é ler a mente divina e assim tornar-se unitário com Deus. Abrange também a criação e a queda dos anjos, a origem do mundo em sete dias, a criação e a queda do homem, os caminhos para a restauração, adotando para isso a reencarnação. A Cabala prática ou mágica é conservada no manuscrito As Clavículas de Salomão. Procura orientar o comportamento do homem observando símbolos sagrados, especialmente as letras hebraicas, às quais é atribuídos valor numérico e valor quantitativo.
Em consequência, foram criados baralhos ou séries de cartas, portadores de imagens simbólicas e números. Essas cartas, tiradas segundo certas regras, devem definir o caráter e o comportamento das pessoas interessadas. O mais importante de tais baralhos é o tarô, que consta de 22 símbolos (Arcanos Maiores). Em períodos de enfermidades a pessoa pode mudar seu nome, a fim de procurar beneficiar-se da mudança de letras e de seus valores numéricos, usa Amuletos, formas de Adivinhação, etc.
IDENTIDADE COM A MAÇONARIA
O Dicionário de Maçonaria, Editora Pensamento, de Joaquim Gervásio de Figueiredo, na p. 89, sob os verbetes cabalistas e cabalísticos declara:
CABALISTAS ou CABALÍSTICOS. Denominação dada aos maçons; sistemas, ordens, ritos e obras dedicados à cabala ou dela derivados”.
CABALÍSTICA. 1) Título atribuído à 4ª das séries em que se divide o Rito de Misraim. Tal série se subdivide em três grupos ou classes, que são: 15ª, 16ª e 17ª e estas compreendem os graus superiores, ou sejam, os dos graus 78º ao 90º; 2) A mesma denominação tem a 4ª série dos 90º da Ordem dos Sofisios, que vai do grau 78º ao 90º“.
No livro A Maçonaria e o Livro Sagrado, p. 93: “A Maçonaria está eivada de aplicações numéricas, quer nos graus simbólicos, quer nos filosóficos”.
ENTRE OS CRISTÃOS
A Cabala não apenas tem ligação íntima com a Maçonaria, como também entre os cristãos. Devido ao relacionamento entre o Judaísmo e o Cristianismo, os líderes e eruditos cristãos deixaram-se influenciar pela Cabala. Isso ocorreu durante a Idade Média. Dizem os cabalísticos que os livros de Ezequiel, Daniel e Apocalipse são puramente alegóricos e cabalistas.
POSIÇÃO BÍBLICA
Analisando alguns dos ensinos e práticas da Cabala à luz da Bíblia, apresentamos as seguintes contestações:
A Cabala tem como propósito central conhecer ou ler a mente divina, procurando tornar o homem um com Deus. Em linguagem atual, esse propósito de integrar-se à divindade é conhecido como o Panteísmo (tudo é Deus). Esse desejo de atingir a divindade já foi objeto de um ser criado perfeito por Deus, mas que deu lugar ao orgulho e tornou-se o sedutor da humanidade. Hoje é conhecido pelos nomes de diabo ou Satanás.
Seu propósito, ao cair da posição honrosa que ocupava no céu, foi levar esse mesmo intento ao casal no Éden. Disse ele: “Sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal” (Gênesis 3.1-5). Por três modos Deus se deixou ser conhecido pelo homem: a) pela criação (Romanos 1.19-20); b) pela própria Bíblia (Hebreus 1.1); e c) por seu Filho Jesus Cristo (João 5.39).
Quando o homem procura conhecer a vontade de Deus, deve aceitar os meios que Ele dispôs para isso, e se O buscarmos de todo o coração certamente O encontraremos. Não do modo do homem, pois o homem natural não conhece as coisas de Deus, porque lhe parecem loucura. E então se cumpre o que disse Paulo em Romanos 7.22: “Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus”.
Deus diz em sua Palavra: “Quem é este que escurece o conselho com palavras sem conhecimento? Agora cinge os teus lombos, como homem; e perguntar-te-ei, e tu me ensinarás” (Jó 38.2-4).
A preocupação da Cabala é ler a Bíblia, e através de normas cabalísticas, entender a mensagem de Deus para os homens. Esse modo singular de entender a mensagem da Bíblia não é próprio. A Bíblia tem uma linguagem literal, que pode ser entendida pelas pessoas humildes como afirmou Jesus (Mateus 11.25). Paulo, por sua vez, declara que os homens pela sua inteligência não conseguiram conhecer Deus, e por isso aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação do evangelho.
A mensagem central do evangelho foi apontada pelo mesmo escritor bíblico, dizendo: “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (ICoríntios 15.3-4). Isso contraria outro ensino fundamental da Cabala.
Dentro das normas cabalísticas, a restauração do homem se dá pela reencarnação. Tal teoria é condenada na Bíblia, que não ensina a reencarnação como o modo de se alcançar a meta final de tornar-se um espírito puro, reencarnando quantas vezes forem necessárias, em cada uma das vezes deixando de lado os erros cometidos na vida anterior. Ora, estudar a Bíblia para conhecer a mente de Deus, e integrar-se à divindade por esforços próprios é algo impossível. Primeiro, porque tentar igualar o Criador com a criatura é algo descabido.
E segundo, o método para uma intimidade com Deus está em recebermos gratuitamente o perdão dos nossos pecados, que podem ser apagados mediante a aceitação do plano de Deus para o homem. Dentro do plano divino para a salvação do homem está a dádiva do seu Filho Jesus Cristo, para propiciação pelos nossos pecados (IJoão 1.9 e 2.1-2,12). Adotar a reencarnação para o progresso espiritual do homem é contar com o impossível. É tentar levantar-se puxando os cadarços do sapato. Não sai do lugar. Mas podemos sentar nas regiões celestiais por aceitar o que Deus nos oferece na pessoa de Jesus Cristo (Efésios 2.1-5).
Com relação à prática, a Cabala faz uso de baralhos e adivinhações para conhecer o futuro de cada pessoa, e traçar caminhos para um bom relacionamento familiar e social. Deus condena na Bíblia de modo claro e inequívoco a busca de conhecimentos fora do revelado literalmente na sua Palavra, de modo a não deixar dúvidas sobre haver uma interpretação oculta revelada para poucos.
“Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram: Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos? À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles” (Isaías 8.19-20).
E, pior, o exercício de tais práticas esotéricas conduz à perdição: “Mas, quanto aos tímidos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos fornicadores, e aos feiticeiros, e aos idólatras e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre; o que é a segunda morte” (Apocalipse 21.8).
“Não seguireis outros deuses, os deuses dos povos que houver ao redor de vós; porque o SENHOR teu Deus é um Deus zeloso no meio de ti, para que a ira do SENHOR teu Deus se não acenda contra ti e te destrua de sobre a face da terra” (Deuteronômio 6.14-15).
“Assim fez Salomão o que parecia mal aos olhos do SENHOR; e não perseverou em seguir ao SENHOR, como Davi, seu pai” (IReis 11.6).
“Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso” (Provérbios 30.5-6).
“Eu sou o SENHOR; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura” (Isaías 42.8).
“Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira” (João 8.44).
“Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se apartem da simplicidade que há em Cristo. Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis” (II Coríntios 11.3-4).
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